No extremo sudeste do concelho, Alvadia é uma das mais recentes freguesias de Ribeira de Pena. Pertenceu a Cerva até 1853, passando então para aquele em que se encontra actualmente. Delimita este concelho com o de Vila Pouca de Aguiar. Numa área de perto de 3500 hectares, vive a mais reduzida das populações de Ribeira de Pena cerca de 250 habitantes - que se distribuem pelos lugares de Alvadia, Lamas e Favais.
Maria do Carmo Cruz e José Edmundo Magalhães caracterizaram da seguinte forma, em "Ribeira de Pena - Monografia do Concelho" (1995), as paisagens desta freguesia de Alvadia: "A estrada estreita mas afastada conduz-nos pela beira da Serra do Alvão acontecendo mesmo que a ramificação desta, situada entre a freguesia de
Alvadia e a freguesia de Gouvães da Serra, concelho de Vila Pouca de Aguiar se denomina serra de Alvadia. A via foi construída aproveitando a curva de nível e vai-nos oferecendo um espectáculo grandioso.
No caminho da ida, à esquerda a serra está mesmo ali à mão, com a vegetação rasteira salpicada do roxo-rosa das urzes, volta e meia pontilhada por rochas aborregadas, que o tempo lavou e branqueou, fazendo-nos servir que toda a serra está a servir de pasto a um imenso e disperso rebanho de ovelhas silenciosas. Não é verdade, contudo, pois são rebanhos de cabritos e cabras que pastam nestes cumes o sabor único, que se não esquece depois de experimentado.
De vez em quando, encontramos um rebanho largo, de animais limpos e lustrosos, ágeis e metódicos na sua tarefa de mordiscar a verdura rasteira, enchendo o espaço vasto da serra com o toque cristalino das suas campainhas, de quando em quando cortado pela voz do pegureiro, que lhes dá ordens curtas e definitivas, prontamente compreendidas e respeitadas.
Do lado direito, é a outra vertente da serra, mais arborizada, com um ou outro salpico de telhado, paisagem muitas vezes de vertigem, dado o declive da encosta. Passamos por Favais e hesitamos: será que é mesmo ali, bastando descer a ladeira íngreme para chegarmos àquela povoaçãozinha que dormita ao sol de Verão, serena como uma pintura?".
Apesar de Alvadia ser a sede da freguesia, é Lamas o lugar mais povoado. Aí se encontra uma pequena capela, da invocação de Nossa Senhora dos Remédios. Reconstruída há poucos anos através de subscrição pública, apresenta um prospecto exterior muito cuidado. O arreigado culto à Nossa Senhora dos Remédios provém do facto de a Virgem ter sempre auxiliado os seus paroquianos. É aliás, o pormenor mais significativo do pequeno templo, a imagem da padroeira no único altar. O tecto é totalmente trabalhado e o altar-mor em talha dourada.
Em Favais é de destacar a célebre pedra do mesmo nome. Encontra-se em frente à Capela de Santa Luzia. É uma pedra esculpida com três anjos, um a tocar e dois a ver. Atrás do templo, umas alminhas de 1954.
A actividade principal das suas populações continua ainda hoje a ser a agricultura e a pastorícia. Pouco mais concede a região. Ligada a esta actividade, a etnografia é aqui muito rica. As casas tipicamente rurais, cobertas de colmo, os espigueiros de pedra que servem para guardar cereais, os instrumentos agrícolas, tudo ainda se vai mantendo nesta freguesia, lembrando os costumes passados e culturalmente tão ricos da região.
As croças centeias merecem-nos uma atenção especial. Pela sua beleza e pela originalidade de que se reveste. Muitos devem já tê-las visto, muito poucos se terão "enfiado" nelas… O artesanato na freguesia era muito forte, mas a crescente industrialização contribuiu para a sua decadência. Como em tudo no mundo actual, as tradições e os costumes mais puros e singelos tendem a acabar. A crescente mecanização toma conta de tudo, estende as suas "garras" em todos os sectores da sociedade. Da agricultura ao comércio.
Antes deste período, as croças eram "rainhas". Peça de vestuário usada sobretudo pelos agricultores e actualmente muito rara em Portugal, são capas ou casacões de junco ou de palha. Também chamadas de coroças ou palhoças, eram fabricadas em determinadas regiões, exclusivamente, e abasteciam todo o País.
As pessoas que as faziam trabalhavam nos quatro meses de Inverno, dedicando-se no resto do ano a outras actividades. Eram 200 ou 250 pessoas, fabricando outras tantas croças por dia e tirando daí um salário de 160 a 200 réis.
Além das croças, bordava-se, faziam-se cestos em vime, fiava-se e faziam-se meias em lã, teciam-se mantas, tapetes e passadeiras.
Bons tempos esses! As croceiras e as croças eram tão importantes que as terras da região dedicaram-lhes um belo hino. Que não quis ser mais do que urna despretensiosa homenagem a quem deu tanto à sua freguesia: "Somos alegres croceiras / Fabricamos a cantar / Palhoças quentes ligeiras / Que da chuva hão-de abrigar / Lá p'lo inverno gelado / Quando chover e gear / Nosso trabalho honrado / Muitos hão-de abençoar".